terça-feira, 6 de julho de 2010

Multitarefas!

É engraçado como a vida de repente toca o sino e você se pega a pensar no caminho que percorreu até agora. Quantos planos, quantos sonhos, choros, amarguras, alegrias e lágrimas. Quantas escolhas boas e malfadadas, tantas que trouxeram sorrisos e tantas que trouxeram pesares, enfim, viver é isso.
Hoje me peguei assim, nostálgica, reflexiva um que de nostalgia derramando um olhar sobre minha existência de 35 anos, tocando lá no fundo do peito.
É, eu já fiz de tudo um pouco nesta minha vida e sei que farei outro tanto, é claro que dentro das normas da possibilidade, não deixando escapar a oportunidade. Sei que continuarei a escolher, a ansiar, a sofrer, a ri, a chorar, mas isso é o que vale, isso é o conteúdo, é o que nos faz crescer bem.
Tive um infância que para mim foi perfeita. Roupas, mesa farta e calçados eram escassos, mas tinha imaginação de sobra, talvez porque eu e meu irmão fomos criados sem televisão , nosso entretenimento era ler ou ouvir meus pais contar histórias à mesa do jantar, ora suas, ora de outros, ou simplesmente o dia a dia. Ri muito com as aventuras de Pedro Malazarte que meu pai contava com detalhes e sons a qual eu e meu irmão ouvia com um brilho entusisasta no olhar. Tinha dias que se juntava a nós um amigo da família, o Sr. Valério, e entao estava a parte de terror estava garantida, ele contava lobisomen, vampiro, mula sem cabeça, ficavamos estarrecidos e ir para o quarto dormir era outra historia, a imaginação corria solta. Lembro de uma vez que meu irmão passou mal ao término de uma destas histórias "arrepiantes", o medo foi tanto que ele de tanto contrair o corpo acabou tendo uma crise de tensão que só melhorou com as massagens de minha mãe. Depois desse episódio o Sr. Valério, suavizou as histórias aterrorizantes mas não deixou de contá-las e meu irmão não deixou de ouví-las.
Essa época ficou como boa lembrança e hoje passo estas mesmas histórias aos meus filhos mas sei que não surtem o mesmo feito porque histórias contadas já não são atrativo em dias de televisão e computador.
Comecei a trabalhar cedo, com 12 anos já trabalhava numa plantação de nabos, rabanetes e cenouras, usando botas de borracha com lama até os joelhos, era epoca de frio e se formava cristal de gelo sobre as folhas, os dedos dos pés dentro da bota adormeciam de tão gelados, só quando chegava em casa é que descongelava daí formigavam e doíam ao mesmo tempo. Quanto eu ganhava? Não me lembro, mas devia ser quase nada.
Quando eu tinha 14 anos meu irmão faleceu (ele tinha 15 anos) fiquei tão baratinada que abandonei os estudos e fui trabalhar num supermercado da cidade, o serviço incluia limpar câmara de resfriamento de frios e laticinios, eu vivia constantemente gripada. Aos 15 anos passei a trabalhar numa fabrica de placa mãe de computador, me destaquei e em pouco tempo era supervisora de linha de montagem, mas então a fabrica fechou e lá fui eu procurar emprego novamente.
Logo trabalhava na fábrica de fosforos Argos e Guarani (creio que todos conhecem), fazia um horário terrível, das 9 as 21h, todo esse tempo em pé, quando findava o expediente meus pés se recusava a se moverem de tão inchados que estavam, e ainda tinha que subir uma rua muito íngrime para poder pegar o ônibus de volta para casa. Chegava por volta das 23 horas, tomava banho, jantava e ia dormir para no outro dia sair as 6 horas porque as 7 cursava datilografia, foi assim durante 2 anos.
Quando completei 18 anos resolvi voltar estudar e entrei na tesouraria da faculdade local, logo cuidava de todos os caixas, tinha motorista e atendimento especial em todos os bancos da cidade, de lá entrei numa multinacional no controle de qualidade na qual fui dispensada depois de 1 ano, em seguida já entrava no hospital geral da cidade e lá fiquei por 7 anos, neste período estudei turismo.
Então conheci o homem que hoje é meu marido e 9 meses depois me casei, tenho 2 filhos lindos (3 e 8 anos), trabaho há 10 anos na área de comunicação, devido a isso sou formada em marketing, publicidade e propaganda e continuo aqui.
Tem momentos que bate uma vontade de mudar o rumo e ramo e  dar um giro de 360º na vida, porque cansa não ter horario pra nada nem tempo para muitas coisas, mas temo, com o tempo a gente desacelera, perde um pouco da ousadia e impulsividade, os pés fincam mais no chão e você pensa muito antes de tocar qualquer mudança, a comodidade dos filhos, marido acabam tendo um peso enorme sobre você, sobre sua vida.
Hoje me considero uma vencedora, creio que dei a volta por cima na realização pessoal e profissional, faço o que gosto, embora sempre haverá os altos e baixos, mas cresci muito, fui obrigada a crescer se quis sobreviver neste mundo louco.
Sei de tudo um pouco: conserto computadores, configuro rede, faço edição de imagens, páginas de web, fotografo, faço video, parafuso, prego, serro, limpo, cozinho, bordo, costuro, lavo, passo, produzo, tenho um blog, pinto, faço crochê, tricô, academia, escrevo, leio, compro na internet, dirijo, corto, entrego, atendo, pago, recebo, etc.
Como vê, sou mil e uma utilidades (como muitas por aí) meu dia começa cedo e não tem hora para acabar, não parei e não pretendo parar, depois da pós em TI quem sabe eu preste um concurso.