domingo, 26 de dezembro de 2010

O palco da vida

Vivemos neste mundo feito marionetes, comandados por linhas gigantes que permitimos serem atadas em nós ora frouxas demais, ora esticadas demais, atrelados a algo ou a quem a tal ponto que nos sentimos confortáveis com o palco e a platéia onde somos manejados mediante a vontade dos espectadores.
Representamos esse papel de bonecos sem fala, sem vontade própria porque dá trabalho ter vontade, lutar, ser real, é muito mais cômodo viver na inércia, vestir a máscara da indiferença, perdermos a voz.
No guarda roupa da nossa vida nos deparamos com uma infinidade de máscaras e fantasias muitas animadas, outras exageradas, retratando ali a nossa hipocrisia, os muitos papéis que representamos vida afora.
É comum vivermos paralisados, reclamarmos de tudo, do texto, do roteiro, das cenas mas, continuamos a vestir as mascaras, a subir no palco, a ser personagem sem definição porque o real nos assombra. Escondemos o nosso desagrado, nossa decepção por detrás de máscaras medíocres de sorrisos falsos, uma cara pintada sem luz, uma expressão que nada expressa embora o nosso feio esteja lá atrás de lágrimas maquiadas em nossos rostos de sombras.
Quem somos afinal de contas? O que existe de real em nós quando as cortinas do palco da vida se fecham? Até quando usaremos essas máscaras para impedir que o que realmente somos se manisfete?
Deixaremos que nos humilhe para sempre no trabalho em prol do sistema que apregoa que devemos ser suaves? Seremos para sempre dilapidados em nossos direitos para que possamos viver sem lutas?Prejudicaremos o nosso colega de trabalho porque onde estamos a concorrência faz parte do negócio e ativa o nosso cordão da indiferença, afinal, quem pode mais chora menos? Sentaremos numa roda de amigos e contaremos vantagens batendo no peito dizendo ao mundo a mentiras veladas sobre como você é ? Ficaremos para sempre olhando o que o outro tem, sonhando em ter, sem lutar para conseguir e odiando os que tem? Seremos para sempre insatisfeitos com a cor dos nossos olhos, a formação dos nossos dentes, a textura do nosso cabelo, o peso do nosso corpo porque sempre ficaremos atrás dessa definição irreal de beleza que denigre o natural?
No que estamos nos transformando?
Somos sabotadores da nossa vida e jamais seremos donos da nossa história se deixarmos que nos comande, que a mídia nos influa, os livros ditem  nosso comportamento, a opinião pública seja mais importante, pertencer a um grupo seja a nossa meta e se esquecermos de nós.
O triste é que quando esse show acabar, as cortinas se fecharem para sempre, seremos apenas bonecos, de cara desbotada, roupas esfarrapadas, cobertos de poeira e traça, sem eira nem beira, nem legado porque vivemos a vida permitindo que outro escrevesse nossa história e finalmente sem corda, sem papel, sem roteiro ficaremos para sempre esquecidos na prateleira do tempo