sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Minha infância

     No meu tempo de criança viver era simples, a tecnologia era uma coisa do futuro e estávamos felizes com a televisão preto e branco com tela de acrilico cor de rosa, e mais ainda com o nosso video game de imagens garrafais.
    Não existia leite longa vida, nem garrafa pet para emporcalhar o meio ambiente e carro só saía de casa aos finais de semana, e isso era para quem os tinha, claro.
    Macarronada era luxo de domingo juntamente com o refrigerante coca ou fanta em garrafas de vidro e a maioria das casas tinham hortas no quintal com verduras fresquinhas, totalmente naturais, hoje conhecida como orgânicas.
    Ir ao supermercado era um passeio, lá íamos arrumados e perfumados, fazer compras as quais eram entregues em casa em caixas plásticas coloridas e retornáveis, caso não se optasse pela entrega a compra era toda embalada em sacos de papel pardo.
    Ainda no primário íamos sozinhos para a escola e a maior preocupação da nossa mãe era que topássemos com vacas soltas ou cachorros bravos pelo caminho.
    As escolas do governo tinha diretoria temida e admirada por todos e os professores tinham autonomia para fazer o que quisesse em prol do ensino, eram todos respeitados como autoridades em sala de aula e também pelos pais de alunos. O ensino era coisa séria e se não sabia não "passava" de série, tinha que saber ler na primeira série. Os professores tinham status na sociedade.
   Brincar era outra coisa feita despreocupadamente e o nosso playground era a rua, o nosso parque de diversões a céu aberto. Era ali que resolvíamos o problema do sumiço das bolinhas, ganhávamos no bafo e arrebentávamos o dedão do pé brincando de pique bandeirinha ou tacobol.
   Tudo era inocente, simples e bom mas, o tempo passou e veio a tecnologia e com ela a oclusão, a violência, os cadeados nas portas e janelas, as escolas pagas com período integral; o ensino do governo se deteriorou e muitas vezes é o revólver que ditas as notas e aprovação; a junventude se perdeu nas dorgas e as crianças a infância e com ela a inocência.
    As brincadeiras despreocupadas  deram espaço para a competição acirrada, o exibicionismo, o brinquedo tecnológico de último tipo.
    O planeta agora está entupido de garrafas pet, sacolas plásticas descartada em locais impróprios acabando com a vida nos rios, sufocando o mundo com suas toxinas.
    Os carros agora estão todos nas ruas todos os dias, e a pressa e correria dita o ritmo da nossa vida. Ninguém mais tem privacidade na vida, privacidade esta escancaradas e muitas vezes desvastadas nas mídias e redes sociais. Todos agora são encontrado no celular sempre ao alcance das mãos, a tecnologia unindo e afastando ao mesmo tempo, algo ambíguo mas implacável dando margem para doenças mental e emocional que se propagam devido a ausência do contato humano.
     Dia após dia somos cada vez mais refém das máquinas, das coisas prontas, dos rótulos, do agora. Comida caseira está em extinção depois que inventaram o delivery, come-se mal porque ninguem tem tempo e nem paciência para nada. Nas livrarias as prateleiras se enchem de literatura de ajuda duvidosa porque quem ensina nem sempre pratica o que escreve, e cada dia estamos mais confusos, cansados e fartos de viver essa vida artificial; prova disso são as cadeias se enchendo , as pessoas tão necessitadas do material, tão afeiçoada ao imediatismo, onde quando não se tem é imprescindível obter e muitos acabam na contramão da vida social.
    Não faz muito tempo que vivi minha infância, está logo ali há um pouco mais de 2 dezenas de anos, parece até que foi há um século quando vejo a deterioração do planeta e das pessoas onde o legal é ter vantagem sempre e ser correto e leal é ser chato e careta, e isso me traz preocupação com os meus filhos que pertecem ao hoje.
   Como ensinar valores humanos, simplicidade, ternura e amor nesse caos reinante? Sei que tenho que fazer minha parte e a faço, mas vejo o reflexo dos valores invertidos quando converso com eles sobre o seu dia a dia na escola, as vezes, ele me questionam  o certo ou errado e sinto a dificuldade de desbravar conceitos que outroras, na minha infância eram errados, e hoje não o são mais. Procuro com exemplos, explicar e ensinar, porque acredito que eles poderão resgatar valores hoje tão "fora" de moda mas, no entanto, sei uma verdade: só o tempo dirá se estou fazendo um bom trabalho.