É pelo chão frio da agonia, que se ouve um gemido...
Gemido de fome, gemido de dor, gemido por falta de amor.
É aquele trapo, é aquele pedaço, talvez ainda com carne,
Mas a aparência é: pele e osso, uma sombra,
De alguém que um dia foi alguém,
Mas que hoje nada é...
Fica ali jogado, chutado por seus semelhantes,
Seus próximos sendo cães, amigos de infortúnio,
Que compadecidos por sua triste sina
Passa-lhe a língua em um tímido afago.
Num fiozinho de voz, num sussurro raspante,
Voz triste, estagnada, espremida na garganta,
Ouve-se o pedido de socorro...não quer morrer.
Mas quem ouviu?
Ninguém. Todos ignoraram, todos se fizeram surdos.
Com medo da epidemia, com medo da miséria.
Entram para a concha medíocre da imobilidade.
Esquecendo que fome é coisa séria.
Então lá ele continua, sozinho
No canto escuro que a vida lhe reservou
O cantinho do túnel íngreme e escorregadio,
Composto de mãos que para baixo sempre empurrou.
E escorregando no visgo da fome,
Sufocado pelo vírus da miséria
Vai retomando dia-a-dia, até que sempre.
Seu lugar no túnel da morte.
quarta-feira, 3 de março de 2010
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