segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


O ser humano é um ser intrigante e contraditório. Ele tem parâmetros de comparações que são ambíguos, coam um mosquito e engolem um camelo em detrimento do TER e não SER, prova disso são as classes sociais.
Hoje é mais atenuado mas, antigamente era escancarado o fato de você ser aceito ou não na sociedade pelo peso do seu bolso.
Rir alto era falta de classe, falar o que se pensava, principalmente se fosse mulher, era abominável, e claro, mulheres também ficavam de fora nas heranças porque "gente" era ser rico e ser homem. Era comum parentes distante de falecidos receberem herança somente pelo fato do falecido em questão não terem filhos, só filhas.
Quando um homem era rico e tivesse o primeiro filho homem, era este que herdava tudo, ser o segundo filho naquela época não era um bom negócio. Era comum ouvir dizer: "ele é só o segundo filho."
Isso soa patético e sem causa para vocês ? Devo dizer que não tem muita diferença nos dias de hoje. Não se espantem! Nós seres humanos vivemos de rótulo e até nos dias de hoje existe sim hieraquia.
Nós, inconscientemente, continuamos com fala ou atitudes atestando que ser o segundo filho não é tão bom quanto ser o primeiro. Por mais que se diga que não há diferença, sempre há.
O primeiro filho é um acontecimento! A família toda (vô, vó, tias, primos, sobrinhos, etc.) acompanham  a gestação que para começar foi anunciada em meio a uma festa, jantar ou almoço para todos. Todas as consultas é de ciência de todos, o ultrasson vai para o You tube e claro todos sabem a data provável do parto.
O barrigão não tem descanso, a toda hora é apalpado, os parentes monitoram todos seus movimentos. O bebê sendo gerado já é chamado pelo nome escolhido e aprovados por todos.
Qualquer visita que chega na casa dos futuros pais são logo convidado para ver o cantinho do bebê e assim vai entre sorrisos e aplausos.
O grande dia chega, os parentes estão todos no saguão da maternidade e é aquela disputa para ver o bebê, quando a imagem então aparece no telão é aquela gritaria. Isso acontece quando nasce e durante todo o crescimento do pimpolho à cada conquista sua, a cada gracinha aprendida.
Pois bem, um dia se descobre a segunda gravidez, e tudo é escandalosamente diferente. Para começar geralmente é algo que não se programou, aconteceu. A notícia para família é dada por telefone e a futura novamente mamãe houve um "você é corajosa, dois filhos! e daí em diante é descaso total, até o maridão que do primeiro ia a todas consultas e babava em todos os ultrassons agora já não é mais assim. O que antes era um prazer agora é se der tempo. Os parentes quando falam do bebê cochicham porque teem receio de que o mais velho ouça e se sinta preterido.
A gravidez avança e o barrigão passa despercebido e quando você fala que já está proximo do parto a admiração é geral:  "mas já!?" Quando o bebê nasce, no saguão da maternidade não há ninguém para festejar a sua chegada, apenas o pai na sala de espera esperando pelo "nasceu", mas ao ouvir se pergunta porque seu coração não bate descompassado. O segundo não é o primeiro portanto não é novidade!
Falo disso porque tenho dois filhos e quando nasceu o mais velho, na maternidade estava cheio de parentes a nossa espera no quarto, todos ansiosos em receber a nova pessoa, no entanto, quando nasceu o meu mais novo, mesmo sendo feriado em São Paulo, ninguém esteve presente, a não ser a tia dele que pediu saída do serviço (ela trabalha em outro municipio) e foi aguardar a chegada dele, se não fosse assim seria apenas meu marido que estaria lá . Visitas ele só recebeu em casa, uma de cada vez, nada de tumulto, nada de risos e aplausos.
As pessoas, os parentes vinham e praticamente ignorava o visitado para que o mais velho não se enciumasse e dava dicas : " dê atenção ao mais velho, o bebê é pequeno e ainda não entende" como se dissessem em outras palavras: "ele é mais importante, ele é o primeiro".
A princípio acreditei que fosse assim, afinal o "intruso" era o pequeno, mas então vi que isso estava errado. Por que negar atenção ao bebê, cochicar sobre ele como se a vinda dele fosse algo secreto e temível para o mais velho? Por que dizer primeiro, segundo? Vida se classifica? O bebê pode não entender nada mas sente e ressente da falta de atenção e o mais velho vai se ressentir de qualquer maneira já que toda adaptação tem suas dores e acontece naturalmente.
Por isso, meus amigos, não rotulem seus filhos por número de chegada, porque esse tempo já existiu e é ridículo, chame-os pelo nome e quando for apresentá-los diga "este é meu filho fulano e este é meu filho sicrano" e se alguém curioso perguntar quem é o primeiro enfatize a resposta: fulano tem tantos anos e sicrano tem tantos anos, e claro, se a pessoa é alfabetizada saberá fazer as contas.
Pessoas são pessoas e todo nascimento é importante, todos eles deviam ser motivo de festa, alegria e espera. Quem for o mais velho deve ser preparado para acolher o mais novo não o número, assim nem o mais velho se sentirá mais do que o mais novo e nem o mais novo se sentirá inferior na vida da família. Isto vale para todos.
Hierarquia, minha gente, é coisa do passado. Porque insistir nisso!
Abçs.

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