terça-feira, 23 de dezembro de 2008

CHUTANDO A BOLA DA VIDA

Quando a bola rola no gramado e os silvos das torcidas se elevam agudos, grave, acompanhado de assobios, fica claro uma coisa para os olhos e corações dos brasileiros: mais um jogo, uma partida de futebol começou. Nessa hora não importa a cor, a raça, a nacionalidade, a classe social, as diferenças, as religiões de cada um, o que importa mesmo é que neste momento o povo, nós, estamos unidos no mesmo sentimento, no mesmo pulsar e correr de sangue. O sangue que só os brasileiros possuem quando se trata de futebol.
Bem, isto é o que dizem, mas será que realmente é o que acontece? Será que para todo esse fervor é puro, é realmente genuíno?
Ao desconfiar pode-se entrever uma outra realidade dura, possivelmente veraz, decepcionante, mas existente: quando a bola rola no gramado, muitos vêem cifras vultosas correr de pé em pé e enquanto a multidão aplaude e vibra, outros enchem seus cofres. Cofres de interesses.
Em tudo há ganância e o futebol não ficou de fora, também é alvo desde que sua inocência escorreu para dentro da boca de lobo do capitalismo.
Quem pode afirmar que o futebol não é uma empresa capitalista? Ninguém. Todos sabem que a verdade é uma só: o lazer gostoso e descontraído, o futebol inocente e sincero, foi arrancado do povo por mãos ávidas de dinheiro, muito dinheiro. E a prova disso é o pouco caso dos jogadores, a falta de garra numa partida, porque se ganhar ou perder o dinheiro está garantido pelos milhões de torcedores que gastou sua miséria pra ver o time preferido jogar.
Nem o poder do país fica inocente nessa, pois, é nessa hora, nesse momento de maior distração que aproveita para mover as leis em prol de si mesmo, visando a rede dos próprios bolsos, onde marcam seus gols puramente egoísta.
E então, não há nada que compensa o povo no pós-entusiasmo futebolístico, porque depois de tudo passado e esquecido confrontam com a dureza, a crueza real de que o poder nas mãos de alguns transformou o sentido do futebol caseiro, num leão indomável, fabricante de dinheiro.
Há mais culpados do que inocentes nesta história. Eu e você por ter consciência disso e assim mesmo insistir em ir lá, entregar o trabalho, o suor, naquele guichê pra depois prantear com raiva a vitória do descaso sobre a satisfação, e eles que possuem as mãos ávidas por dinheiro, que não dão valor ao sentimento e significado, nem a vida e que se possível fosse transformaria a nossa vida em interesses, em moeda. Escrúpulo, decência e consideração são para quem tem e quem não possui isso, nem rezar será o suficiente, e, nessa deficiência, nessa nossa ignorância, nesse nosso conformismo, prosseguimos chutando a bola da vida.

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