terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ser mãe é padecer no paraíso

Eu cresci ouvindo isso.
Hoje sou mãe e ainda procuro o paraíso, creio que essa frase não é verdadeira, porque para eu ser mãe, é ser extra, visionária, heroína sem reconhecimentos, mediadora, conciliadora, elástica e enfim, ser mãe é ser tudo.
E mãe além de ser mãe, ainda é mulher, profissional e amante. Pra mim isso é ser muita coisa, e vira e mexe bate uma vontade de soltar os “cachorros” e fazer greve. Pois é, isso mesmo: greve.
Quem é que nunca teve aquela “vontadezinha” de mandar todo mundo catar coquinho e não levantar da cama pra socorrer um filho com pesadelo no meio da noite? Que se sentiu inclinada a não passar a roupa do filho para ir a escola? Quem não quis arrumar a mesa do café, nem por a roupa na maquina pra lavar, nem ir deitar porque sabia que o maridão estaria lá todo animadão? Quem já teve vontade, às vezes, de não pentear o cabelo, nem sofrer na unha da depiladora, nem escovar o dente, nem trocar de roupa pra dormir? Que quase surtou quando vê que na agenda escolar dos filhos os recadinhos só é pra mamãe? Intensificando assim a certeza de que é você que educa, que é você que trabalha e o marido apenas te ajuda e ainda por cima ele se acha no direito de descansar nos finais de semana.
Verdade seja dita: que paraíso é esse? Porque se você está estressada e resolve dar uns berros é tachada de descontrolada, ou ouve um medíocre “que é isso, benzinho”, que faz você ter pensamentos homicidas e acaba por se recriminar achando que precisa fazer terapia.
Eu confesso que já pensei todas essas coisas e ainda penso às vezes. Eu tenho vontade de chorar quando estou sem vontade de fazer as coisas e tenho que fazê-las; tenho vontade de enxotar o Sol quando ele vem cedinho me acordar, me lembrando que tenho um “caminhão” de coisas pra fazer e que nem sempre estou animada para elas.
Tenho que sorrir me vestir, vestir os filhos, o marido, fazer o café, arrumar a mesa, conferir a mochila, verificar o que tem pro almoço, levar filho na escola e ir trabalhar; no meu caso trabalho em casa e por isso cozinho também. Quando o final do expediente vem, começa outra correria: arruma a janta, coloca roupa na maquina, checa a mochila, passa roupa... Quando vai deitar nem sabe se vale a pena, logo é dia e tem que levantar.
Essa eu sei que é a realidade de muitas mulheres, e sei que também reclamar aqui e acolá não resolve. Eu ainda conto com marido que ajuda, mas mesmo assim a maioria das coisas fica pra eu fazer, porque ele sempre tem algo pra fazer como, por exemplo: brincar com os filhos. Às vezes peço para que faça alguma coisa pra mim e ele me responde com a cara mais lambida possível: “Poxa, mas eu prometi brincar com o fulaninho”. Diante disso deixo pra lá, mas a verdade é que nunca me sobra tempo pra brincar com os meus filhos. Se me rebelo e vou brincar, acaba acumulando coisas e me sobrecarrego e estresso mais e acaba não compensando.
Daí depois de tudo isso que disse me vem uma frase que minha mãe sempre falava quando eu, menina, reclamava que não queria fazer as coisas (naquele tempo era ócio mesmo) ela dizia: “quem não quer ter trabalho que nasça morto”.
É isso é certo. Sei que seria ingrata se não visse as coisas boas que tenho como: amor, saúde, paz, trabalho e sustento, mas é que as vezes cansa, porque afinal ninguém é de ferro.

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