Nunca a mulher esteve tão sozinha quanto ela está nos dias de hoje. Somos tão auto-suficientes, inteligentes, cultas e, no entanto estamos amargando dias de solidão. Não importa a sua condição sócio-econômica, casada ou solteira; estamos sim, amargas e sozinhas.
Hoje nem de longe lembramos a mulher típica das quais nossas avós fizeram parte. Estas foram educadas para casar, procriar e servir. Podemos estender o olhar para além do tempo e veremos que já fomos moeda de troca, escravas, comércio, estorvo ou simplesmente máquina reprodutora. Que apanhamos, choramos, sofremos e sorrimos servis, porque a condição feminina era aquela, e era o que conhecíamos.
O tempo veio e fomos ganhando espaço, o que significou um avanço porque passamos de escravas para esposas e expositor onde os maridos nos cobriam de jóias para assim mostrar o seu poderio econômico, mas o nosso dever ainda permanecia intacto, o dever de servir e honrar o marido, cuidar da casa e ter muitos filhos. Aquelas que o marido tinha um poder aquisitivo melhor eram dondocas, tinham até certo conforto, mas também tinham filhos com a mesma freqüência das mulheres que moravam nas várzeas, e, era comum morrerem no parto devido à assistência frigorífica das parteiras. A vida era só sofrimento, nada mais.
Então, certo dia, veio a revolução. Queimamos nossos sutiãs e foi o começo do ditado da nossa cartilha. E foi uma explosão. Fomos taxadas de vadias, pecadoras e fomos desonradas, envergonhadas, excomungadas, excluídas, mas isso não foi empecilho algum. Ganhamos as ruas, as indústrias, os bares, restaurantes. Abrimos nossas carteiras e exibimos nossa independência atracando com o poder de dizer sim ou não a reprodução graças aos anticoncepcionais. Decolamos, voamos alto e agora cá estamos saboreando a nossa emancipação: mas ela tem gosto de quê?
Todas estas conquista (benditas), todo esse nosso esforço, toda essa nossa garra, acabou por fazer “mal” à sociedade, à família, a nós mesmo. Hoje vemos nossos filhos serem educados por babás ou entidades, o nosso lar na mão de quem nem se preocupa com ele, o nosso homem um bicho papão e assim vemos dia após dia à paz, a tranqüilidade escoar para dentro da nossa caçamba de culpa. Estamos sim, culpadas, mortificadas, estressadas, viciadas em calmantes, a beira de um ataque de pânico, enfartadas, morrendo cedo. Se não formos agressivas não escovamos nem nossos dentes por pura falta de tempo, porque ao sentirmos culpadas por tudo acabamos arcando com mais coisa do que podemos suportar.
Porque de nossos ombros não foram tiradas nenhumas das responsabilidades competentes e sim agregadas mais algumas. Eu posso ser uma profissional de sucesso, mas também limpo nariz de criança, faço supermercado e troco fraldas.
Hoje em dia o divórcio é comum entre mais e mais casais, em conseqüência disto a destruição da base familiar para nossos filhos, tirando deles a chance de crescerem saudáveis emocionalmente e se tornarem adultos seguros. Agora não sabemos o que é pior se é a separação dos pais e o processo todo que acarreta isso ou o serem testemunhas das brigas e acusações, lágrimas e desespero de um lar onde os pais não se amam mais, nem tem tempo de ver o que deu errado. Isto tudo acaba por matar a fé deles na vida coisa da qual nenhum humano pode crescer e viver sem.
Não sou favor da convivência deficiente, da nulidade da mulher de antigamente, mas fico com dor no coração de ver tudo se decompondo: os conceitos familiares, o respeito ao próximo, o amor. Tudo se banalizou depois que fomos às ruas, evidenciando que éramos nós que segurávamos a barra, que era nós à coluna da casa e não o homem com a prepotência, arrogância e machismo deles como se pensava. Isso tudo dói na gente.
Ainda hoje somos nós (me desculpem os homens, mas vocês ainda precisam evoluir muito) que mantemos o lar em pé, talvez meio deficiente, cheio de falhas mas pensamos em nós e na família. Somos capazes de diversas funções ao mesmo tempo e damos conta de quase todas elas, não todas porque não somos deusas e nem temos o poder de estar em dois lugares ao mesmo tempo (ainda não). Somos mãe, pai, dona de casa, amante, profissional, mulher e bela. Carregamos conosco a eleição prioritária de nossos filhos e driblamos o nosso próprio relógio. Às vezes sem nos darmos conta nesta escala nós mesmo vem em último, mas não desistimos, cumprimos nosso dever.
Sabemos que com todas estas inclusões e exclusões não ficou nada fácil reproduzir, e a maternidade tende a chegar mais tarde ou a nem vir (o nosso corpo se nega a fecundar neste nível tão alto de estresse), nem conviver conosco porque sempre estamos à beira de um ataque nervoso o que obriga os homens a reavaliar seu papel, serem mais tolerantes e se resignar porque que apesar de tudo somos auto-suficientes.
Isso tudo é para as casadas que dia após dia fica mais turbulenta sua vida, nesta ânsia de conciliar tudo: trabalho, casa, marido e filhos; mas ser solteira nos dias de hoje também é muito complicado.
Esforçamos, estudamos, lutamos, nos formamos, conseguimos deslanchar a carreira, é somos bem sucedidas e quando vemos estamos sozinha, somos uma ameaça para o publico solteiro masculino. O que há de errado conosco? Porque não conseguimos manter um relacionamento? Não há nada de errado conosco, talvez, exageramos um pouco no trabalho, mas e daí? Afinal estamos correndo agora para que no dia em que tivermos uma família tenhamos tempo pra ela, mas formar essa família é que é difícil hoje em dia. Os homens vêm, se dizem apaixonados e depois de algum tempo estamos só, fomos descartada. Nunca sabemos como agir ou o que fazer em relação à eles, somos inseguras porque queremos ser liberais. Temos medo de transar na primeira e depois ele sumir, daí se não transamos logo de cara eles acabam por sumir porque não querem investir em relacionamentos; se damos mole somos descaradas; se somos sérias: essa garota se acha e os manuais de sobrevivência não ajudam em nada. As revistas que vem recheada de depoimentos masculinos (nada sinceros) sobre isso ou aquilo que a garota tem que fazer para conquistá-los é puramente ilusão. Lá eles posam de bonzinhos resolvidos e modernos, mas na pratica eles não são assim. Eles continuam sem querer discutir os problemas, sem telefonar depois de um encontro, sem dar devida atenção ao ego feminino que é sofisticado, mas tem uma carência crônica; gostam que a última palavra ainda seja deles, eles continuam sim a carregar com eles (alguns, não todos) a prepotência machista dos nossos avôs, e nós, a dependência da presença deles herdadas das nossas avós, o que deixa claro que para algumas de nós a vida só está completa ou são normais quando estão com alguém para casar, namorar, no entanto, namoro, casamento necessita de cuidados, dedicação e paciência e para isso é necessário tempo e não o temos.
Então chegamos a um impasse: Porque temos a necessidade de termos o nosso homem? E quando o temos gostaríamos de não ter? Se solteiras queremos casar? E se casadas queremos descasar? Se mães: ô sofrimento; se não: ô tristeza. O que realmente queremos para nossas vidas? Do que valeu nossas antepassadas lutarem tanto para nos dar esse presente se ainda continuamos atreladas à idéia de que é preciso estar e não o ser com alguém para ser feliz? Quem disse que ter um companheiro é sinônimo de normalidade? Quem disse que ser solteira pra sempre é saudável? A solução para ser feliz não é procurar fora do nosso corpo, não é estar apaixonada e depois chorar a dor de amor, não é estar isso ou aquilo, é ser. Ser o que quiser ser. Solteira, casada, separada, lavadeira, bombeira, freira, executiva, etc. Mas ser boa no que decidir ser. Isso é difícil sim, mas viver nunca foi fácil.
Talvez ao aceitarmos isso deixaremos de ser esta multidão feminina, desorientada, confusa, cada vez mais solitária, incompreendida, cobradas para sermos sempre 10, porque se formos 9,5 somos ignoradas. Deixaremos de lado a estigma das vovós, aquela mulher simples que tinha apenas como objetivo educar os filhos e satisfazer o marido, que olhava o mundo pela janela.
Talvez assim façamos com que vejam o nosso sucesso e que se somos bem sucedidas não é porque facilitamos as “coisas” para o chefe, mas sim porque foi reconhecido o nosso esforço, o nosso potencial, o nosso intelecto e quem sabe acabaremos com a opinião bestial de que mulher é apenas um rosto e um corpo bonito com o mínimo de cérebro.
A nossa luta está longe de terminar, ainda temos que continuar provando que podemos ser boas em tudo sem a execrável comparação: boa tanto quanto um homem, mas sim boas, ótimas, apenas isso por mérito; para que num futuro próximo (esperamos) as nossas filhas possam fazer frente em igualdade com os homens sem pejoração, sem perder a pose, nem o brilho, nem os cabelos e nem descer do salto.
Ao futuro!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
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